Nosso primeiro destino na Bolívia foi
Nuestra Señora de La Paz, ou simplesmente La Paz, a capital administrativa e sede do governo boliviano. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, a capital constitucional do país, a oficial, é Sucre!
La Paz, e a Bolívia como um todo, é uma cidade bem pobre. E isso é facilmente percebido logo no primeiro instante. É suja, confusa, tem um trânsito daqueeeeles, com direito a carros velhos, motoristas barbeiros e irritados que buzinam por todo e qualquer motivo, e até mesmo sem motivo algum aparente! Há até quem diga que La Paz é uma cidade feia. Pode até não ser das mais bonitas, fisicamente falando, mas feita também não é. A beleza de La Paz está muito mais ligada à sua cultura! E nisso ela é imbatível! Mas pra perceber isso, é preciso se despir de preconceitos e ir lá, ver, presenciar, sentir, experimentar!
La Paz é uma cidade multicultural e que ainda conserva muito da sua origem indígena! Um exemplo clássico, são as cholas (pronuncia-se
tchôlas), figuras onipresentes por toda La Paz. Antigamente, o termo chola era pejorativo e se referia às mulheres que não seguiam as tradições "religiosamente". Mas, hoje em dia, esse sentido mudou, e as cholas são as mulheres que conservam suas culturas indígenas e se vestem sempre com longas e coloridas saias, chales rendados, tranças na cabeça, além de um chapéu que, originalmente, demostrava qual o estado civil das mulheres, de acordo com a posição que estava, hoje, muitas já nem usam mais. Geralmente, andam também com panos coloridos amarrados nas costas onde carregam de tudo, desde crianças até (muitas) mercadorias, como artesanatos, que costumam vender nas ruas. Não por acaso, muitas das cholas são bem corcundas, principalmente as mais velhas.
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Detalhe de uma chola carregando "o mundo" nas costas |
Como eu já contei no
Roteiro de viagem à Bolívia, viajamos do Brasil para a Bolívia com a Gol (de milhas). Mas como a Gol só voa até Santa Cruz de la Sierra, compramos um voo pela cia aérea boliviana BOA para La Paz, que fica a 900 km de lá. O voo atrasou mais de 3 horas, tomamos um chá de cadeira no aeroporto de Santa Cruz, que lembra muito o aeroporto de Porto Seguro/BA que, por sua vez, lembra uma rodoviária. O calor abafado também é igual! Pegamos mais de 30°C lá! Santa Cruz está a apenas 400 metros e poucos de altitude (metade do que temos aqui em Belo Horizonte) e, portanto, lá, geralmente, é bem quente.
Já La Paz é uma das cidades mais altas do mundo e, por isso mesmo, lá é sempre frio. A média de temperatura anual é de apenas 8°C. Nós fomos na primavera, em outubro, e pegamos até um "calorzinho" de 15°C durante o dia, mas à noite a temperatura despencava pra quase 0°C. Mas o frio não é o único problema da altitude elevada não. Com seus mais de 3.600 metros de altitude, La Paz assombra seus visitantes com o soroche, o "mal de altitude", cujos principais sintomas são falta de ar, cansaço, mal estar, dor de cabeça e enjoo. Obviamente, não é todo mundo que vai ter todos esses sintomas. Cada pessoa reage de uma maneira diferente. Tem gente que não sente absolutamente nada, já outros quase morrem de tanto passar mal.
Pra mim, o que pegou mesmo foi a falta de ar! Qualquer esforço, por menor que fosse, já fazia o coração disparar. Parecia até que eu tinha uma escola de samba dentro do peito! Mas nada que um bom mate de coca não resolva. O uso, digamos, medicinal da coca é liberado e muito difundido na Bolívia. E os efeitos são comprovados cientificamente! Mas não espere se sentir mal para tomar o chá de coca, o ideal é tomar várias vezes ao dia! E prefira o chá natural, que você faz com as próprias folhas da coca (água quente e açúcar), ao invés daqueles chás de saquinho. Dizem que mascar a folha de coca é ainda mais eficaz do que tomar o chá. Eu até tentei mas não consegui, fiz ânsia de vômito na hora! No entanto, é muito comum encontrar os nativos mastigando folhas de coca o tempo todo, é algo cultural! Existem ainda outros produtos feitos de coca, como as balas (caramelos), que podem ser facilmente encontrados em La Paz.
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Bala de coca (até que é gostosinha) e o famoso chá de coca imprescindível numa viagem à La Paz. |
Mas, mais alto ainda que La Paz, é sua vizinha El Alto, cidade onde fica o aeroporto de mesmo nome e que está a mais de 4.000 metros de altitude. Muita gente já passa mal já no desembarque e, por isso, o aeroporto tem posto médico e até balões de oxigênio. Eu não cheguei a passar mal, mas senti um aperto no peito, uma pressão, sei lá, algo estranho. Apesar da vontade enorme de sair correndo de lá, tentei manter a calma e fiz tudo beeeem devagar pra não piorar a situação. Depois que chegamos em La Paz, que é um pouco mais baixo, eu já melhorei bem! Não cheguei a me sentir 100%, longe disso, mas aquela sensação ruim, aquela pressão forte, passou!
Logo na saída do aeroporto, pegamos um táxi que, a princípio, queria nos cobrar 80 bolivianos mas, como eu já tinha visto que o valor era 50, questionamos e, depois de muita negociação, ele acabou fazendo por 50 bolivianos mesmo. Mas (para se vingar) nos deixou a um quarteirão da pousada!! E nem tivemos tempo de discutir nem nada, ele desceu do carro e já foi tirando nossas mochilas lá de dentro e colocando no chão! Se eu já acharia isso um absurdo em qualquer lugar e em qualquer situação, imagina isso em La Paz? Tivemos que SUBIR um quarteirão e meio, com a mochila pesada nas costas, num frio de 2°C e ainda tinha a altitude que deixava tudo muito mais difícil! Mas, enfim, chegamos, comemos uma pizza no restaurante da própria pousada e dormimos!
Nosso tempo em La Paz era curtíssimo, apenas 1 dia e meio. Contratamos um city tour (semi-privado) na agência que fica na pousada. A ideia do city tour era ganhar tempo de deslocamento de um lugar pro outro e evitar fazer muito esforço pra não piorar os efeitos da altitude. E a ideia de fazê-lo semi-privado era fugir daquela coisa de ônibus cheio de gente subindo e descendo e fotografando e correndo que eu, particularmente, odeio! Os lugares percorridos pelo city tour foram:
Valle de Luna
Lugar incrível, com formações rochosas que lembram a superfície da lua. Aliás, segundo nosso guia, foi o próprio Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua, é que deu o nome ao lugar devido à sua semelhança com a mesma. O local fica a cerca de 10 km ao sul do centro de La Paz e a entrada custa 15 bolivianos (± 5 reais). É possível também fazer uma trilha, bem marcada e sinalizada, que percorre grande parte do Valle. Mas nós fizemos apenas parte dela.
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Valle de la Luna |
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Durante nossa visita ao Valle de la Luna encontramos esse boliviano que tocava flauta e dançava. |
Mirador Killi Killi
Mirante de onde se por avistar, quase inteiramente, a
cidade de La Paz, que está localizada no meio de um vale e cercada por várias montanhas que fazem parte da Cordilheira dos Andes. A impressão é que estamos no meio de um grande buraco, buraco esse totalmente ocupado! Afinal de contas, são 2 milhões de habitantes se amontoando num espaço pequeno pra tanta gente. Do alto do mirante, é possível perceber, bem claramente, o grande contraste social do local. Na parte baixa da cidade estão situadas os bairros de classe média e alta com seus casarões, condomínios e prédios modernos. Já nas encostas, estão os bairros mais pobres com suas casas de tijolos à vista. Assim como acontece no Cairo (e que eu contei
aqui), os bolivianos não terminam suas casas e as deixam assim, sem acabamento, sem pintura, para pagar menos impostos. O resultado disso é que, principalmente olhando do alto, La Paz parece uma grande favela!
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Vista do Mirador Killi Killi.
Reparem, em detalhe, o estádio Henando Siles, onde os brasileiros (e outros estrangeiros também) costumam sofrer com a altitude nas partidas de futebol. |
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Na parte mais baixa da cidade, as casas e prédios das classes mais altas. Já nas encostas, ficam as casas das classes mais baixas. E o Monte Illimani ao fundo. |
Plaza Murillo
É a principal praça de La Paz e marco zero da cidade. Cercada por prédios históricos, entre eles o Palácio Presidencial, também conhecido como Palacio Quemado; o Palácio Legislativo, sede do parlamento boliviano e a Catedral, a praça é visita quase que (± R$ 3,50) obrigatória! Lá é um local frequentado tanto por turistas quanto por nativos que dividem espaço com os pombos, centenas deles!
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Plaza Murillo |
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Palácio Legislativo, Palácio Presidencial e Catedral que circundam a Plaza Murillo. |
Calle Jaén
É um quarteirão fechado cheio de construções antigas e coloridas. Entre elas, existem vários museus. Pagando uma entrada única de 10 bolivianos, é possível visitar 4 deles: o Museo Costumbrista Juan de Vargas, o Museo de los Metales Preciosos, o Museo del Litoral Boliviano e o Museo Casa de Don Pedro Domingo Murillo. Os museus estão abertos de terça a sexta de 9hs às 12:30 e de 14:30 às 19hs, aos sábados e domingos somente de 9hs às 13hs. Nós visitamos o local no sábado à tarde e não pegamos nenhum museu aberto. Mas ainda assim vale a pena passear pela Calle Jaen que é super bonitinha. Vale a pena também visitar a Galeria de arte e atelier do artista boliviano Mamani Mamani que tem quadros lindíssimos e do qual eu virei fã!
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Calle Jaén |
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Galeria de arte Mamani Mamani |
Mercado de las Brujas
O Mercado das bruxas, na verdade, é apenas um aglomerado de barraquinhas situadas na esquina das Calles Santa Cruz e Linares. Lá é possível encontrar, além dos tradicionais artesanatos e roupas bolivianas, artigos para rituais de todos os tipos e oferendas diversas, mas as que mais chamam a atenção são, com certeza, os fetos de lhamas secos. Sinistro!
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Mercado de las Brujas |
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Mapa do city tour que fizemos em La Paz: A- Vale de la Luna. B- Bairro de Miraflores e Estádio Hernando Siles. C- Mirador Killi Killi. D- Plaza Murilo. E- Calle Jaén. F- Mercado de las Brujas. |
Ficamos hospedadas no hostal
La Posada De La Abuela Obdulia que é super bem localizado! Ele fica na Calle Linares, que é paralela à Av. Illampu e faz esquina com a Calle Sagarnaga. Essas são as 3 principais ruas do centro histórico! Então, no nosso segundo dia dia ficamos batendo perna ali por perto mesmo! Nas redondezas, em especial na Av. Illampu, existem várias lojas que vendem artigos esportivos a bons preços, mas desconfie se o preço for muuuuito bom, pois há muito produto falsificado também! Barraquinhas de artesanato existem aos montes em todas as ruas, inclusive no
Mercado de las Brujas que fica ali pertinho. Veja mais detalhes no post
Hospedagem em La Paz.
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Localização do hostal e as principais ruas do centro histórico marcadas de verde. |
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Artesanatos em La Paz |
Outro lugar interessante é uma feira que acontece na Av. Illampu, não sei se todos os dias ou apenas aos finais de semana. A feira é um local frequentado por alguns turistas, claro, mas basicamente pelos locais. Lá você pode encontrar praticamente tudo o que você procura, de flores e frutas a frangos crus (e não congelados), especiarias diversas, roupas, brinquedos, produtos de limpeza e higiene, eletrônicos e quinquilharias mil. Lugar interessante pra conhecer um pouco mais da cultura local.
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Feira na Av. Illampu, de tudo um pouco. |
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Crianças bolivianas, todas fofíssimas. |
A Iglesia de San Francisco fica ali próxima também, na praça de mesmo nome, entre as Calles Sagárnaga, Murillo e Santa Cruz. A igreja é enorme e bem bonita, tanto externa quanto internamente. Fomos num domingo pela manhã, quando estava acontecendo a missa, inclusive. O lugar estava bem cheio e, do lado de fora, acontecia uma feirinha com barraquinhas de comidas e artesanatos e várias apresentações locais.
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Igreja de São Francisco |
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Apresentação local em frente à Igreja de São Francisco |
E bem em frente ao nosso hostal fica o
Museo da Coca (Calle Linares, 906. Aberto de terça a domingo de 10 às 19hs.
www.cocamuseum.com). O museu é pequeno e fica dentro de uma galeria de artesanatos, lojas e restaurantes. A entrada custa 12 bolivianos (± 4 reais) e existem guias explicativos em vários idiomas, inclusive português. O museu é bem interessante e super explicativo, alguns acham que é até meio cansativo devido à quantidade de informações, portanto vá disposto a ler muito! É possível encontrar toda a história da coca, sua extração, seus efeitos, seus produtos, seus usos, etc. Eu achei bem bacana! Vale a pena! Ah.. e não é permitido tirar fotografias lá.
Infelizmente, como nosso tempo em La Paz foi curto, não pudemos desfrutar de tudo o que a cidade oferece. Mas há muito mais a ser visto e feito, tudo vai depender do tempo que você terá disponível. Se quiser saber mais sobre o que fazer em La Paz, dá uma olhada no
site da RBBV, a rede de blogueiros de viagem da qual faço parte.
Oi, Rê. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais e Feliz Natal.
Natalie - Boia
Que ótimo, Natalie!:-)
ExcluirObrigada, mais uma vez!
Feliz Natal pra você também e um ótimo 2014!
Oi Renata, parabéns pelo relato! Você pagou quantos BOBs pelo city tour? Grato.
ResponderExcluirOi Aluizio, tudo bem?
ExcluirObrigada!
Infelizmente, não lembro o preço do city tour, mas não foi barato não, viu? Só fiz pq estava com o tempo curto!
Renata,
ResponderExcluirTudo bem?
Quantos dias você ficou em La Paz?
Um ótimo 2015 pra vc... com muitas viagens!!!!